
Aprende-se muito com as crianças na sua simplicidade, espontaneidade e verdade. É certo.
Elas pensam sem subterfúgios e expressam-se sem peias nem rodeios. Conduzem-nos a uma admiração natural e imediata. Abrem-nos perspectivas de visão real sobre as coisas e pessoas porque se exprimem sem atingirem o alcance do passo seguinte mesmo que, consequentemente, negativo e prejudicial. O que congeminam “vomitam”. E nós gostamos que, até, seja assim.
Todavia, não exageremos nas apreciações, porque aquilo que é natural pode degenerar em protagonismo vazio num futuro muito próximo e não poder acompanhar-se numa actualização sempre necessária.
Como é de pequenino que se fortalece o pepino, há que procurar incentivar as virtudes e evitar quaisquer defeitos e carências. Atitudes, tidas como “normais” e adequadas à idade, podem esconder, em si mesmas, situações e acções erradas e descabidas para um futuro mais ou menos próximo. Os miúdos aprendem com bastante facilidade tanto os anúncios televisivos como as manifestações e palavras dos maiores. Daí a grande exigência de responsabilização a caber aos mais adultos que não devem aceitar, rindo com as pequenas loucuras e as inconveniências infantis.
Isto pode parecer vir ou não ao talho de foice da observação decorrente dos modos e gestos na aprendizagem das muitas crianças que se cruzam connosco nas lides da missão e da vida.
Já se nos afiguram determinados procedimentos como verdadeiros oásis, neste deserto de deselegância e ingratidão.
É que ERA UMA VEZ… e não foi há muito tempo.
A criança acabara o seu encontro de Catequese. Não trouxera tudo quanto era suposto ter à mão para os trabalhitos próprios a elaborar naquela hora. Como, aliás, sucedeu também a alguns dos outros colegas. Por isso, a pessoa por eles responsável emprestou a todos aquilo que lhes faltava. Assim, e já fora do espaço, a tal criança lembrou-se que, afinal, não havia manifestado o seu reconhecimento pelo favor recebido. Então, voltou atrás e, num misto de vergonha e alegria, lançou: “obrigado, Catequista, por você me ter emprestado o lápis”.
Coisa banal tal gesto, pensará alguém.
Sabendo isto, veio à minha mente, de imediato, aquela cena contada por S.Lucas, no seguinte texto, cheio de acção, reconhecimento e bondade: “Quando Jesus se dirigia para Jerusalém, atravessou a Galileia e a Samaria. Ao entrar em certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez doentes com lepra. Ficaram a uma certa distância e puseram-se a gritar: “Jesus, Mestre, tem pena de nós”! Jesus olhou para eles e disse: “Vão ter com os sacerdotes para que eles vos examinem”. Eles foram e, enquanto iam no caminho, ficaram curados. Um deles, quando viu que estava curado, voltou e louvava a Deus em voz alta. Ajoelhou-se aos pés de Jesus, curvando-se até ao chão em agradecimento. E este era samaritano. Então Jesus perguntou: “Não eram dez os que foram curados? Onde estão os outros nove? Mais nenhum voltou para dar graças a Deus, a não ser este estrangeiro?” Depois disse-lhe: “Levanta-te e vai-te embora. A tua fé te salvou.” (Luc.17/11-19)
Todas as capacidades às quais chamamos virtudes deverão ser esclarecidas, fomentadas e desenvolvidas, sobretudo numa idade em que tudo se aprende e começa a haver um certo discernimento das coisas e atitudes a tomar.
As crianças são um campo formidável e propício para as melhores sementeiras. Se estas não se fizerem nesse local e a tempo, tarde ou nunca elas descobrirão o maravilhoso da vida e o seu enquadramento numa sociedade exemplar e construtiva.
Que não haja perda de tempo e eduquem-se as crianças.
P. Manuel Armando
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